terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Ambrose Bierce - O Dicionário do Diabo

Amor (substantivo masculino): Uma insanidade temporária curada pelo casamento.

Canhão (substantivo masculino): Instrumento utilizado na retificação das fronteiras nacionais.

Corporação (substantivo feminino): Um engenhoso instrumento que serve para produzir lucros individuais sem responsabilidades individuais.

Filosofia
(substantitvo feminino): Uma estrada de muitos caminhos, todos indo de nada para lugar nenhum.

Futuro
(substantivo masculino): Aquele período de tempo em que os seus negócios prosperam, seus amigos são verdadeiros e a felicidade está assegurada.

Idiota (substantivo masculino): Um membro de uma tribo grande e poderosa cuja influência na história humana tem sido sempre dominante e controladora.

Justiça (substantivo feminino): Um produto que o Estado vende aos seus cidadãos, de forma mais ou menos adulterada, em troca da fidelidade, impostos e serviços pessoais dos ditos cidadãos.

Religião (substantivo feminino): Uma filha da Esperança com o Medo, explicando para a Ignorância a natureza do Desconhecido.

Revolta
(substantivo feminino): Uma revolução que dá errado.

Rezar (verbo): Pedir para que as leis do universo sejam anuladas em favor de um único pedinte.

Voto (substantivo masculino): O intrumento e símbolo do poder do homem livre de fazer um tolo de si mesmo e um desastre do seu país.

Esses são alguns dos verbetes do "Devil's Dictionary" do jornalista Ambrose Bierce. Bierce foi um jornalista e polemista que viveu na segunda metade do século XIX e que compilou uma extensa coleção de verbetes jocosos que criticavam ou faziam troça de assuntos em voga na sua época, notadamente nos campos da política e da moral. Essas entradas foram finalmente publicadas em 1911 e o livro pode ser atualmente baixado de graça, pelo "Projeto Gutemberg", em inglês, claro. Aqui vai o link.

Talvez eu volte a publicar outros verbetes no futuro, se houver interesse. O dicionário não é um Aurélio da vida, mas é bem grandinho.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Feliz Natal do Achmed

Feliz Natal para todos! Deixo vocês aqui com o Achmed, o terrorista morto!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Mark Twain

"Se o trabalho fosse prazeroso, os ricos o manteriam para si mesmos."
- Supostamente Mark Twain, mas pode ser apócrifo.

“If work were so pleasant, the rich would keep it for themselves.”
- Mark Twain

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A mau contada história da guerra na Geórgia

Esse é o primeiro post que eu faço a pedidos. Parece que caiu uma questão sobre isso no vestibular da UFC esse ano, e uma amiga me pediu informações sobre isso, então resolvi escrever aqui alguma coisa sobre o assunto e deixar publicado.

A primeira coisa que é preciso entender em relação ao que aconteceu na Geórgia esse ano é que praticamente todas as informações que sairam na mídia foram equivocadas, mau contadas ou simplesmente mentirosas. Quase tudo que você tenha assistido no Jornal Nacional, ou lido num jornal de grande circulação, é informação que não pode ser confiada. Se você se guiar por eles, o que aconteceu na Geórgia foi basicamente o seguinte: a grande e malvada Rússia estava apoiado "rebeldes separatistas" da Ossétia do Sul, e quando a Geórgia foi tentar exercer o controle sobre a região, o Exército russo atacou e destruiu o Exército da Geórgia, massacrou civis e praticamente demoliu o pequeno país. Como eu disse, quase tudo o que está dito acima é falso ou pelo menos maquiado pra confundir você.

A verdade sobre o que aconteceu é BEEEM mais complicada, mas vamos lá. Isso pode ficar um pouco longo, porque a história toda é muito complicada, mas eu vou tentar manter a coisa mais ou menos nos eixos. Em primeiro lugar, é preciso entender que a Geórgia fica no meio do Cáucaso, e aquilo ali é uma colcha de retalhos de diferentes povos, religiões e tudo o mais que você imagina, tudo banhado a muito sangue. Aquilo é uma confusão só, mas basicamente você precisa saber que ali tem gente muçulmana (os Chechênios, por exemplo, que justamente estavam querendo se separar da Rússia por causa disso), gente cristã Ortodoxa Russa, uma minoria cristã nestoriana e diversos outros pequenos cultos que ninguém nunca ouviu falar. Etnicamente, a coisa fica dividida entre os chechênios, os Ossétios, os russos, os azerbaijanos, georgianos, judeus, minorias étnicas de origem persa e os diferentes paises de origem turca ou mongólica (Cazaquistão, Uzbequistão, etc). Complicado o suficiente, já? Pois é, e a maioria dessa galera odeia uns aos outros faz séculos, por razões que só eles entendem. Aquilo tudo tinha sido conquistada pela Rússia czarista no século XIX e, depois da Revolução de Outubro, várias partes da região tentaram se livrar da Rússia, e outras apoíaram a Rússia, enfim, o caos. O Exército Vermelho teve que botar ordem na região a ferro e fogo nos anos 20.

Veja esse mapa pra ter idéia do caos.


Quando a poeira disso tudo baixou, a região foi artificialmente divida em meia dúzia de "Repúblicas Socialistas Soviéticas", como o Kazaquistão, Uzbequistão, Azerbaijão e, evidentemente, a Geórgia. Esses países, vale lembrar, faziam parte da "União das Repúblicas Socialistas Soviéticas", mas na prática eram estados satélites da Rússia, que era a cabeça central da União Soviética. Muitos desses estados, entretanto, tinham fronteiras artificiais, que deixavam diferentes populações juntas em um mesmo estado, ou populações próximas dentro de estados diferentes. Com a Geórgia, acontecia as duas coisas ao mesmo tempo. Pouca gente sabe, mas o georgiano mais famoso do mundo é um carinha com o nome de Joseph Stálin. Quando ele assumiu o poder na União Soviética, ele não esqueceu a sua velha terra natal e foi bem generoso com a Geórgia, dando um território relativamente grande para ela, no qual outros grupos étnicos não-georgianos estavam incluidos. A Geórgia também ficou famosa como sendo a "riviera francesa" da União Soviética, tipo uma colônia de férias para os oficiais superiores do exército e do Partido Comunista, cheio de "dachas" luxuosas onde os camaradas do partido podiam relaxar e curtir o clima mais ameno do que os invernos rigorosos de Moscou. Eu sei que isso tudo parece pouco relevante, mas vai por mim, é relevante sim.

Agora, chegamos ao centro da questão. Duas áreas, em especial, sempre foram problemáticas na Geórgia. Uma era a Abkhazia, uma região costeira habitada, obviamente, pelos "abkhazes". A outra é justamente a Ossétia do Sul. O engraçado é que, apesar de a Ossétia do Sul ser habitada principalmente por Ossétios, ela faz parte da Georgia, enquanto a Ossétia do Norte, também habitada principalmente por Ossétios, faz parte da Rússia em si. Viram ai como a coisa é complicada? E mais, a Geórgia é um país antiquíssimo, cheio de tradições próprias. Eles tem uma igreja própria (a Igreja Ortodoxa da Geórgia, separada da Ortodoxa Russa), alfabeto próprio, língua própria, etc. Aparentemente eles habitam aquela região desde o Neólitico, sendo um caso raro de povo que ficou no mesmo canto todo esse tempo sem ser extinto. Os Ossétios, por outro lado, são completamente diferentes, eles são um povo indo-europeu, aparentados com os Persas (atuais Iranianos), e o nome antigo deles eram "Alanos" (isso mesmo, aqueles que invadiram Roma). Eles tem uma língua própria, em geral são mais claros e tendentes ao cabelo loiro e olhos claros do que os georgianos, e são Ortodoxos Russos. A coisa toda foi mantida sob controle durante a União Soviética em parte por conta da repressão mesmo e em parte porque, apesar de oficialmente ser parte da República Soviética da Geórgia, a Ossétia do Sul era praticamente uma região autônoma.

Quando a União Soviética se dissolveu, um dos primeiros países a pular fora e mandar a Rússia ir para aquele lugar foi justamente a Geórgia, que nunca tinha gostado de ser parte da Rússia em primeiro lugar. Assim que a independência da Geórgia foi declarada, o caos começou. A Abkhazia e a Ossétia do Sul declararam independência da récem-independente Geórgia, ouve um golpe de estado, uma guerra civil, enfim, o caos. No final das contas, um cara
chamado Eduard Shevardnadze assumiu o controle em 1995, mas no meio da confusão toda a Abkhazia e a Ossétia do Sul, com apoio russo, tinham expulsado o governo da Geórgia das duas regiões e ficaram sendo, de fato, regiões independentes. Mas a ONU, com a sabedoria de sempre (que é zero), resolveu reconhecer todos os países que se fragmentaram da União Soviética com as mesmas fronteiras que tinham antes. Daí, se você pegar qualquer mapa ou atlas, vai aparecer lá a Geórgia inteirinha, com a Abkhazia e a Ossétia do Sul incluídas, apesar de que desde 1993 que o governo central da Geórgia não manda naquelas regiões e que elas são efetivamente independentes. Essa é uma das partes da história que a mídia não conta.

A Geórgia, que não é boba nem nada, procurou apoio dos países ocidentais e, especialmente, dos Estados Unidos, desde sua independência. Se você tem um vizinho como a Rússia, e se vocês dois não se dão bem, o único jeito de você ter alguma paz é se aliar com o único país que bota medo na Rússia, que é justamente o bom e velho USA. Pros Estados Unidos, a Geórgia tinha duas utilidades. Em primeiro lugar, era uma base colada na Rússia, de onde os Estados Unidos podiam continuar a política que eles mantinham desde a queda da União Soviética, ou seja, a de cercar a Rússia com estados-satélites aliados a Washington e deixar a Rússia de joelhos. Na verdade, a Guerra Fria nunca acabou de verdade. Os Estados Unidos até hoje tem tentado cercar e isolar a Rússia internacionalmente e a OTAN (que foi criada para combater o Pacto de Varsóvia) não só continua existindo como incorporou ex-aliados Soviéticos, como a Polônia. Isso é outra coisa que você não lê nos jornais. A outra é que a Geórgia possui um oleoduto importante para os países europeus, pois é por ali que passa a produção de oléo do Azerbaijão, que vai para a Turquia e de lá para a Europa. Sem a Geórgia, o oléo teria que passar ou pela Rússia ou pelo Irã, e nenhum desses países é "amigo" da Europa e dos Estados Unidos. A Rússia, é claro, não gostou de nada disso, mas, falida e desmoralizada, não havia nada que ela podia fazer. Por fim, os Estados Unidos e a Europa chegaram ao ponto de irritar a Rússia com a Guerra do Kosovo. Há de lembrar que a Sérvia era um grande aliado da Rússia e que, quando Kosovo foi declarado independente, isso foi feito por cima de protestos da Rússia e contra a própria política da ONU, que era de não desmembrar países por questões de conflitos étnicos. Uma vez que você começa a separar países por base nisso, tem dezenas de países com minoras étnicas, especialmente em regiões conflituosas como África e Oriente Médio (e o Cáucaso), que vão querer fazer o mesmo.

Chegamos, finalmente, a guerra em si. Em 2003, o tal do Shevarnadze, que tinha sido reeleito no ano 2000, foi retirado do poder pela 'Revolução das Rosas" e substituido pelo atual presidente, um tal de
Mikheil Saakashvili. Isso porque, apesar de ser um aliado dos Estados Unidos, ele não era um aliado bom o suficiente, basicamente. É engraçado que quando um governo eleito que é amigo dos Estados Unidos caí, isso é um "golpe", mas quando o governo é anti-americano, isso é uma "revolução". É esse tipo de coisa que a mídia faz, sem que ninguém note direito. Bom, esse tal do Saakashvili é um linha dura, com fama de esquentado (ou desequilibrado mesmo) e que estudou nos Estados Unidos e fala inglês fluente. É, enfim, um fantoche dos Estados Unidos. Ele recebeu uma grana em "pacotes de ajuda econômica" e em armas, equipamente e treinamento para o exército da Geórgia. Os Estados Unidos deu uniformes, munição, artilharia, fuzis, aviões, etc, para a Geórgia. Até modificou e melhorou os tanques de origem soviética que eles tinham. Obviamente, a Geórgia é um dos poucos países que apoiou a invasão do Iraque e antes da guerra com a Rússia, tinha uns 2.000 soldados georgianos no Iraque, o que representa o terceiro maior contigente, depois do dos Estados Unidos e da Inglaterra.

O tal do Saakashvili, como eu disse, é um linha dura e ultra-nacionalista. Ele também odeia a Rússia. Uma das promessas que fez quando assumiu o poder, foi o de re-estabelecer o controle sobre a Abkhazia e Ossétia do Sul. E é aqui que a mídia fica ainda mais suspeita. Ninguém diz muito isso, mas quem começou a guerra foi a Geórgia, não a Rússia. Veja bem, na Ossétia do Sul tinha um contigente de uns 1.700 soldados russos, que estavam lá legalmente, com um mandato da ONU. Além disso, tem uns 3.000 soldados irregulares nativos da Ossétia. No dia 7 de Agosto de 2008, a Geórgia lançou um ataque por terra e por ar contra a capital regional da Ossétia do Sul, a cidade de Tskhinvali. No processo, eles destruíram várias vilas, mataram centenas de civis e completamente demoliram a cidade nas primeiras 36 horas do ataque. Eles usaram aviões carregadas de "cluster bombs" (basicamente uma bomba feita de centenas de bombas menores, que se espalham e causam grande dano), artilharia e foguetes não-guiados. Vários soldados russos que estaval lá, repito, legalmente, foram mortos nesses bombardeiro. Pra vocês terem noção, a Ossétia do Sul inteira só tem 80.000 pessoas (isso deve dar mais ou menos a população do Conjunto Ceará, ou até menos), e cerca de metade dessas pessoas teve que fugir para a Rússia por causa da destruição, umas 1.200 ou mais morreram e o resto ficou tentando sobreviver nos escombros.
Tanque da Geórgia destruído em Tskhinvali

Ninguém sabe bem o que se passou na cabeça do Saakashvili e do alto-comando do exército da Geórgia ao fazer isso. É um mistério que o presidente de um país do tamanho da Geórgia (população 4 milhões, cerca de metade da população do Ceará) tenha decidido atacar a Rússia. Logo a Rússia, o país que derrotou Napoleão, Hitler e que nunca foi invadido desde o tempo dos Mongóis. Mas a verdade é que ele atacou, ele que começou a guerra, e ele foi o primeiro a cometer barbaridades, como bombardear pesadamente uma área civil. Eu só posso imaginar que eles pensaram que a Rússia não ia revidar, com medo dos Estados Unidos, mas isso não aconteceu. O que pegou todo mundo de surpresa foi a velocidade com que a Rússia reagiu. Ninguém dava mais nada pelo Exército Russo depois da queda da União Soviética, dizia-se que ele era mau-treinado, mau-pago, mau-equipado, etc. Mas, o que apareceu na Geórgia foi diferente. Em menos de 24 horas a Marinha Russa bloqueou os portos da Geórgia e desembarcou uma força anfíbia na Abkhazia e a Força Aérea Russa abateu todos os aviões da Geórgia que se atreveram a voar e estabeleceu controle aéreo do país. Os cerca de 1.500 soldados da Geórgia que atacaram a Ossétia do Sul só ficaram em Tskhinvali por cerca de 3 horas, antes que tivessem que se retirar sob fogo da artilharia e dos aviões russos. No dia seguinte, a infantaria e os tanques russos já estavam rolando a toda velocidade na Ossétia do Sul. Já no terceiro dia das operações todas as forças da Geórgia tinham sido expulsas da Ossétia e estavam em fuga aberta, sendo bombardeadas pelos aviões russos. Todo o equipamento pesado deles, tanques, caminhões, artilharia, etc, foi destruído ou abandonado. Enfim, a Rússia demoliu o exército da Geórgia em 48 horas. Se o Putin quisesse, ele tinha mandado os tanques entrarem em Tbilisi (a capital da Geórgia) e ninguém ia poder impedir. Ele chegou mesmo a deixar algumas tropas entrarem dentro da Geórgia, conquistado a cidade de Gori (por onde passa a principal estrada e ferrovia do país, cortando a Geórgia ao meio) e os portos do país. Os Estados Unidos fez pouca coisa além de reclamar e arrumar uns aviões para levar os soldados da Geórgia que estavam no Iraque de volta pra casa, mas antes que eles pudessem fazer qualquer coisa a Rússia já tinha ganho a guerra.

Obviamente, a história não foi contada desse modo. Os soldados russos foram surpreentemente controlados quando entraram na Geórgia. Eles não destruíram muito as regiões onde chegaram, nem mataram civis ou coisa do tipo. O exército russo tem a fama bem-merecida de ser brutal, mas dessa vez eles forama até calmos. O que apareceu na mídia, entretanto, era que a Rússia estava destruíndo a Geórgia, matando civis, o presidente da Geórgia, o louco, teve até a ousadia de dizer que a Rússia estava cometendo um "genocídio" na Geórgia. E a mídia ocidental repitiu esse negócio todo por alguns dias. Chegou-se inclusive a se falar que a Rússia tinha atacado a Geórgia, porque a Geórgia era um estado "democrático", e isso irritava a Rússia e outras asneiras do tipo. No final das contas, os repórteres que foram pra lá começaram a contar uma história diferente. Ficou claro que quem tinha começado o tiroteio tinha sido o
Saakashvili, que ele tinha atacado civis na Ossétia do Sul e que os russos não estavam, de fato, destruindo a Geórgia. O próprio Departamento de Estado começou a mudar de foco. Em vez de repetir os chavões do Saakashvili, eles passaram a tentar acobertar a coisa toda, o que foi fácil, porque as Olimpíadas tinham acabado do começar. Quando a mídia ocidental descobriu como a coisa toda fedia, e que eles tinham mentido para o público quando repetiram informações mentirosas da Geórgia e do Departamento de Estado dos Estados Unidos, eles ao invés de dizer que tinham errado e tal, simplesmente calaram a boca e fizeram uma meia dúzia de matérias escondidas que contavam, mais ou menos, o que se via. Somente através da internet você conseguia umas informações mais detalhadas.

Não se pode dizer que a Rússia era a boazinha da história. Eles demoliram o exército da Geórgia mais do que era necessário como forma de demonstrar força. Há também interesses estratégicos que ela estava seguindo. Dando uma pisa na Geórgia ela mandou uma mensagem indireta pra todos os países da região de que não adianta ser baba-ovo dos Estados Unidos. Quem manda ali ainda é a Rússia, e é bom esses outros países prestarem atenção e serem legais com o Tio Putin. Especialmente quando eles quiserem fazer algum oleoduto. Agora, o que rolou na mídia foi uma história tipo Davi e Golias. Que a pobre coitada Geórgia foi atacada pelo grande vilão Rússia. E isso simplesmente não é verdade. Esse
Saakashvili é um louco, uma ameaça à ordem internacional. A Geórgia é um fantoche dos neo-conservadores americanos. Isso precisa ficar bem claro.

Bom, esse post ficou gigante, então vou encerrar por aqui. Desculpem, mas a história era complicada mesmo. Se alguém pedir, posso botar uns links para sites (em inglês), que eu usei como fonte.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O maconheiro mais antigo da terra!

Um artigo publicado no Journal of Experimental Botany detalha como cientistas encontraram o estoque de maconha mais antigo do mundo no Deserto de Gobi, na China.

A erva foi encontrada numa tumba datada de 2.700 anos atrás, assim como diversos outros artefatos, o que leva a crer que o sujeito enterrado nela era um xamã importante do seu povo. Entre as coisas encontradas com o cara, tinha cerca de um quilo (isso mesmo!) de maconha, numa vasilha de madeira coberta com um saquinho de couro. Até o momento se pensava que os povos antigos cultivavam a planta da maconha apenas para extrair a fibra, conhecida como cânhamo, utilizada para fazer cordas, etc, e que o teor de THC das variedades de maconha antiga era muito baixo. Essa descoberta, entretanto, continha níveis de THC comparáveis com espécies atuais e que tinham sido selecionadas e maceradas de modo a concentrar o THC, como se faz hoje com a maconha que é utilizada para consumo.

Não foi encontrado nenhum cachimbo ou outro instrumento de fumo com o cadáver, então não se sabe bem como a maconha era usada. Os cientistas pensam que a erva pode ter sido ingerida, tomada como chá ou fumegada com uma espécie de turíbulo, como os Citas faziam (alguns séculos mais tarde, entretanto). Também não se sabe se a erva era utilizada para dar "visões" para o xamã ou como erva curativa. Eu, particularmente, creio que era o primeiro, porque senão não teriam enterrado o cara com um quilo da coisa.

Por último, o primeiro maconheiro do mundo, apesar de ter sido encontrado na China, não era chinês. Era um cara branco, de olhos azuis (não me pergutem como eles descobriram a cor do olho dele) e que provavelmente falava um idioma aparentado do céltico. Isso porque o Oeste da China, onde fica o Deserto de Gobi, é um dos locais que foi "invadido" por populações de origem indo-européia, ao lado do Irã, Afeganistão, Índia e Europa. Só mais tarde os "chineses" que conhecemos hoje conquistariam o lugar.

O artigo original onde eu vi essa, encontra-se AQUI.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Fernando Pessoa

"E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos."
Fernando Pessoa

domingo, 7 de dezembro de 2008

Piratas da Somália: A Maldição do Sirius Star!


Já posso até ver o próximo sucesso de Hollywood. Eles estão fazendo um quarto filme na série "Piratas do Caribe", mas eu acho que ao invés de fazer aquela mesma história de sempre, com o Johnny Depp procurando algum tesouro mágico em algum lugar perdido, o que, francamente, está um pouco batido, eles deveriam ser mais ousados com o novo filme. Por que não fazer um daqueles filmes "baseados em eventos reais"? O título eu já deixei aí em cima!

Como vocês bem sabem (ou não), a costa da Somália se tornou, nos últimos anos, a região mais perigosa do mundo para se viajar de barco, por conta da ação de piratas na região. Isso mesmo. Piratas de verdade, em 2008! Que diabos, eu não duvidaria nada que pelo menos um deles até use um tapa-olho! Só esse ano, foram registrados mais de noventa ataques contra navios na região, 38 desses navios foram capturados e pelo menos 16 navios ainda estão em poder dos piratas. Um deles é o Sirius Star, um navio petroleiro saudita de 330 metros de comprimento, carregando quase 2 milhões de barris de petróleo. Para vocês terem uma idéia, cabem três campos de futebol em cima do deck do navio e, quando carregado, ele pesa três vezes mais do que o maior porta-aviões da Marinha americana. No momento, ele está ancorado perto de uma cidadezinha da Somália chamada Harardhere, sendo que eu não duvidaria que ele fosse maior do que a vila inteira. Um outro navio bastante interessante também foi raptado pelos piratas Somali, dessa vez um navio ucraniano chamado MV Faina, que está ancorado perto da mesma vila. Esse navio, entretanto, tem uma carga bem mais interessante: 33 tanques soviéticos, fuzis, lança-granadas e munição. Teoricamente esse material teria sido comprado pelo Quênia, mas parece que na verdade o negócio todo é contrabando que ia acabar na mão dessas milícias que tem na África.

Diferente dos seus côngeneres do século XVIII que em geral abordavam os navios para roubar as cargas, os piratas da Somália estão atrás de resgate. Eles mantém o navio e a tripulação reféns dentro do navio, perto da costa, até que o dono do navio pague um resgate, em dinheiro vivo, pelo navio e pelos tripulantes. Segundo relatos das tripulações resgatadas, eles são bem tratados pelos piratas, que chegam ao ponto de contratar moradores das vilas para cozinhar comida "ocidental", lavar as roupas, etc. Depois de pago o resgate, o navio é liberado. As autoridades do Quênia, país vizinho, acreditam que só esse ano os piratas receberam $150 milhões em resgate. Nada mau para um país que não tem porra nenhuma, né?

E é justamente por isso que a pirataria é um negócio em rápida expansão na Somália. Veja só, desde 1992 que a Somália não tem um governo. Aquele lugar é um caos completo. Como o país não tem governo, não tem polícia, nem Marinha, nem Guarda-Costeira, nem nada. Durante esses últimos anos, vários navios de pesca industrial asiáticos invadiam as águas costeiras da Somália e literalmente acabaram com todos os peixes da região. Os pescadores locais não tinham a menor chance de competir. Foi aí que começou a pirataria. Os pescadores arranjaram umas armas, uns barcos rápidos a motor e passaram a atacar os navios de pesca, pedindo resgate para liberar eles. Quando eles viram que o resgate dava mais dinheiro do que pescar, a coisa tomou impulso. Pelo que se sabe, os chefes tribais da Somália agora apoiam os piratas. E eles estão ficando mais sofisticados. Os piratas agora são compostos por ex-pescadores, que são considerados os cérebros por trás das operações, visto que são eles que conhecem o mar, as rotas dos navios, etc. Junto deles, vão os ex-soldados das milícias tribais, que servem de músculos, armados de AK-47's e lança-foguetes. Por fim, tem os especialistas, os caras que operam os GPS's, os telefones por satélite, as máquinas de contar dinheiro e que servem como tradutores para falar com as tripulações e com os donos dos navios. Pelo que se sabe, esses últimos são ex-professores, técnicos desempregados, etc. Quando chega o resgate, os piratas deixam cerca de metade do dinheiro com os líderes tribais e dividem o resto da grana entre eles. E, caras, eles tão ficando ricos. Constroem casas enormes nas vilas onde eles têm as bases deles, casam com as garotas mais bonitas da região (a Somália é um país em grande parte islâmico, portanto, os homens praticam a poligamia e é considerado de alto status poder manter várias esposas), compram carros possantes, etc.


A maioria dos piratas é de uma região chamada "Puntland", que é aquela ponta do "Chifre da África". Se vocês verem bem um mapa, essa região fica colada com o Golfo de Aden, que é a único caminho possível para todos os navios que tem que passar pelo Canal de Suez. E passam MUITOS navios por ali. Mas os caras são até mais ousados. Além de atacar os navios que passam ali pelo canal, eles tão atacando navios em alto-mar, por todo o Oceano Indíco. O Sirius Star, por exemplo, foi capturado centenas de quilômetros ao sul, em alto mar. Isso porque, obviamente, com tantos atos de pirataria, as Marinhas do mundo estão começando a reagir e patrulhar a região, o que está deixando o Golfo de Aden meio perigoso para os piratas. Um dia desses, a Marinha indiana até afundou um navio que estava sendo usado pelos piratas. Infelizmente, era um navio que eles tinham acabado de capturar e a tripulação original ainda tava dentro e 14 pessoas morreram, só um escapou vivo, depois de ficar uma semana boiando em alto-mar. Ah, os piratas fugiram antes do barco afundar. Na verdade, os piratas continuam dando um baile nas Marinhas.

Então, estou certo ou não em propor essa nova temática? Olha só, eu tenho até um elenco prontinho para atuar! Veja só que elenco talentoso e carismático! O segundo cara na fileira de cima tem tudo para ser o herói principal, com aquele sorriso charmoso e seu lança-foguetes a tira-colo. O cara logo embaixo dele é o palhaço da turma, com aquele chapéu engraçado. Muito melhor do que o Johnny Depp e o Orlando Bloom! Fica faltando uma atriz feminina, para tomar o lugar da Keira Knightley, mas acho que deve ser fácil comprar uma noiva ou duas em Mogadishu para estrelar.

Zhuangzi, Huizi e a Cachoeira de Hao

Zhuangzi e Huizi caminhavam ao longo da Cachoeira de Hao quando Zhuangzi disse, "Veja como os peixinhos nadam e pulam por todos os lugares! É disso que os peixes realmente gostam!"

Huizi disse, "Você não é um peixe, como você sabe do que os peixes gostam?"

Zhuangzi disse, "Você não é eu, então como você sabe que eu não sei do que os peixes gostam?"

Huizi respondeu, "Eu não sou você, então certamente eu não sei o que você sabe. Por outro lado, você certamente não é um peixe - então isso ainda prova que você não sabe do que os peixes gostam!"

Zhuagzi disse, "Vamos voltar para a sua questão original. Você me perguntou como eu sei do que os peixes gostam - então você já sabia que eu sabia quando você fez a pergunta. Eu sei por estar aqui, ao lado da Cachoeira Hao."

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Citação de Robert Heinlein

"Um ser humano deveria ser capaz de trocar uma frauda, planejar uma invasão, esfolar um porco, comandar um navio, desenhar um edifício, escrever um soneto, fazer contabilidade, levantar uma parede, colocar um osso no lugar, confortar os que estão à beira da morte, receber ordens, dar ordens, cooperar, agir sozinho, resolver equações, analisar um novo problema, espalhar esterco, programar um computador, cozinhar uma refeição saborosa, lutar de modo eficiente, morrer com honra."
"Especialização é para os insetos."
- Robert Heinlein


Escolhi essa citação do Heinlein porque eu concordo com ela completamente. É um das minhas citações favoritas, pois captura muito do que eu próprio gostaria de dizer, como todas as grandes citações. Para quem não sabe, Heinlein foi um escritor de ficção científica americano, muito influente no gênero e cercado de controvérsias.

A citação original:

"A human being should be able to change a diaper, plan an invasion, butcher a hog, conn a ship, design a building, write a sonnet, balance accounts, build a wall, set a bone, comfort the dying, take orders, give orders, cooperate, act alone, solve equations, analyze a new problem, pitch manure, program a computer, cook a tasty meal, fight efficiently, die gallantly."
"Specialization is for insects."

- Robert Heinlein